1 de janeiro de 2006

O Soneto surgiu no início do século XIII, na Sicília, onde era cantado na corte de Frederico II, a exemplo das tradicionais baladas provençais. Atribuído por alguns a Jacopo da Lentini, o Soneto tornou-se mais conhecido depois de aperfeiçoado por Francesco Petrarca.

Nada disso era de meu conhecimento quando resolvi escrever poesias no final dos anos 80. Descobri a literatura quando cursava o Ensino Médio no Colégio Pedro II. Na época, assombrei-me diante da poesia fundo-de-poço dos poetas ultra-românticos, sobretudo Álvares de Azevedo. Eu estava no auge de minha adolescência e era dotado de uma personalidade muito mais oitocentista que qualquer outra coisa. Num período em que o Rock brasileiro explodia nas rádios e o país continuava sua cavalgada em busca de uma democracia madura e completamente desintoxicada do que havia bem pouco tempo antes, eu estava mergulhado na poesia romântica do século XIX.

Não me envergonho disso, pois esse primeiro contato, na contramão de tudo e de todos, foi o que fez brotar em mim o amor à poesia, à literatura, aos livros. Assim, pois, o maravilhoso universo das palavras chegou tardiamente ao meu conhecimento. Essa constatação, no entanto, nunca me abateu. Levado pelas mãos de poetas como Álvares de Azevedo, Castro Alves e Casimiro de Abreu, devorei quase todos os autores daquela geração. Esgotados esses autores, busquei outros mais, numa progressão geométrica que se mantém até os dias de hoje. Foi no meio dessa viagem sem volta que conheci essa fascinante forma poética intitulada: Soneto.

Ainda sem saber as complicadas regras existentes nas entrelinhas dos quatorze versos de um Soneto, fiquei apaixonado por sua beleza singular. Não me lembro do primeiro que li, mas tenho comigo os muitos ensinamentos absorvidos durante a leitura de vários deles. E, olha, foram muitos e de muitos autores diferentes. Olavo Bilac, Raimundo Correia, Cruz e Souza, Castro Alves, Camões, Bocage, Florbela Espanca, Augusto dos Anjos, Machado de Assis, Vinícius de Moraes, Pablo Neruda, são apenas algumas fontes das quais bebi até a última gota.

O fascínio aumentou quando me dei conta do enorme desafio que é, para um poeta, escrever um legítimo Soneto, com suas principais regras obedecidas rigidamente. Como já disseram, “escrever um Soneto é esculpir uma gaiola de aço que prenda pássaros de ouro”. Só mesmo quem já se aventurou a escrever um sabe do que estou falando. Por amar tanto essa forma, achei-me no direito (quiçá, prepotência) de também escrever um. Nossa, como foi difícil. Mas, enfim, o tempo, o esforço, o amor, a força de vontade e sei lá o que mais, permitiram-me evoluir de modo a produzir meus primeiros Sonetos. Nada que me estimulasse muito. Assim mesmo não desisti. Melhorei um pouco mais e comecei a produzir os primeiros protótipos considerados, por mim, dignos de compor um livro.

Não quero mendigar elogios. Sei que já escrevi bons Sonetos, todavia, também sou consciente de minhas falhas e, por esse motivo, tenho muito a aprender. Este livro é o resultado de tudo isso. Amo tudo que escrevi. Está aí, para quem quiser ler, sentir, gostar, até mesmo jogar pedra. Minha literatura, no entanto, segue para outros rumos.

Não sei em que medida o texto clássico se fará presente em minhas obras daqui em diante. A decisão de publicar este livro está intimamente ligada a este fato. Mas isso é assunto para o futuro. Por ora, vamos mergulhar nos PEQUENOS SONS de uma “sonetoterapia”. E para terminar, seguirei o conselho de meu amigo Piotr Slacen: favor usar com moderação.

Carlos Eduardo Drummond

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